Desde

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11.12.10

Barriga de vento


Ele, nao obstante a idade, tinha medo de enfrentar a familia, ou a sua idéia de familia. Aquela que era e aquela que estava por vir. Tinha medo de dar a noticia na mesa de almoço ou jantar. Tinha medo do que iria pensar o vizinho, de apartamento ou de trabalho. Tinha medo de quebrar as paredes de vidro do seu mundinho perfeito. Tinha medo de acordar com o choro no meio da noite. Tinha medo de mudar de vida. Tinha medo de mais essa responsabilidade. Tinha medo de, sem fisioterapia, ser obrigado a desatrofiar seu lado esquerdo. Tinha medo de ser pra sempre. Ela tinha medo de perde-lo. Preferiu ficar sem os dois.


SER
 Carlos Drummond Andrade

O filho que não fiz / hoje seria homem. / Ele corre na brisa, / sem carne, sem nome. /  Às vezes o encontro / num encontro de nuvem. / Apóia em meu ombro / seu ombro nenhum. /  Interrogo meu filho, / objeto de ar: / em que gruta ou concha / quedas abstrato? /  Lá onde eu jazia, / responde-me o hálito, / não me percebeste, / contudo chamava-te / como ainda te chamo / (além, além do amor) / onde nada, tudo / aspira a criar-se. /  O filho que não fiz / faz-se por si mesmo.

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