Desde

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23.9.10

Vintage

A nova moda agora é usar coisa velha.

21.9.10

A menina que falava frances

Todos os dias ela estava ali, com aqueles olhos enormes e o ouvido sempre atento para tudo aquilo que se propagava no ar. Cabelos longos, muito negros, cilios de boneca, tinha a altura da maioria das pernas que cruzavam a praça. A pele muito branca, o corpo muito magro, sardas nas bochechas, quando queria se fazia misturar aos pombos. Ninguém sabia de onde vinha, para onde ia ou quem eram seus pais, mas o fato de te-la por perto acendia sempre uma centelha dentro daqueles que a circundavam. Cinco, talvez seis, anos, a menina com laço de fita de veludo vermelho nos cabelos e vestido encardido de linho amarelo parecia rimar com os dias cinza e chuvosos de Paris, entretanto, a unica certeza sobre ela era a de que se tratava de uma estrangeira. Vivia da diplomacia: deste um petit four, da senhora de branco um pedaço de baguette, da dono do bar um croissant, da dona do bordel gants de dentelle, do turista americano five dollars... Nao pedia nada, mas também nao refutava. Na porta do Louvre, começou a falar frances. E parecia um milagre, aquela menina mirrada que começava a repetir, primeiro timidamente, depois com desenvoltura, as historias que ouvia daquele lugar magico e de suas obras de arte. Nunca havia passado da porta de entrada, mas podia imaginar todas as cores, todos os desenhos, relevos e mistérios que se escondiam embaixo daquela piramide. Passava horas debruçada sobre os folders e a contar para os outros personagens do seu mundo as historias que inventava, que somadas àquelas que ouvia eram ainda mais fascinantes e bonitas que a relidade. Um dia, um senhor alto de bigode e chapeu, muito distinto em seu terno Gaultier e capa de chuva, ouviu a menina que falava frances. Quis saber mais, mas ela perdeu as palavras. Nao sabia de onde repetir respostas, faltava esse capitulo no seu repertorio. De qualquer modo, ganhou passe livre, podia entrar e sair quando bem entendesse. Ganhou vale no restaurante, conta na cafeteria e passou a viver ali, de dia e de noite. De tanto entrar dentro daquelas telas, de tanto fazer amor com as esculturas, de tanto viajar nos mapas, um dia, assim de repente, tao de repente como começou a falar frances, a menina virou um quadro. Ninguém sentiu sua falta, porque ela continuava ali. E o diretor ficou muito, muito orgulhoso e satisfeito pela aquisiçao de sua mais nova obra de arte.



20.9.10

Titanic

Um naufragio pode ser uma tragédia; pode significar a morte para muitos; ser a ruina de alguns; mas pode, também, ser a ancora de outros. Enquanto isso, destroços e destroçados boiam...

17.9.10

Ditadura do onirico

Pelo menos nos sonhos temos liberdade completa e absoluta para fazermos qualquer coisa, por mais absurda que seja. Quando dormimos, todos somos, um pouco, Salvador Dali.

Fatalidade

Ainda não decidi se acreditar em destino é excesso ou falta de criatividade.

16.9.10

Vendendo a alma ao Diabo

Para aqueles que acreditam que é possivel trair até mesmo em pensamento o casamento deve ser correspondente à prisao perpétua.

15.9.10

Top Secret

De onde vem a felicidade? Uma vez me disseram assim: "Juzinha, voce ainda é muito novinha e seu conceito de felicidade é uma coisa muito abstrata". Ja se passaram dez anos, mais ou menos, mas eu continuo me sentindo muito novinha e a felicidade, pra mim, so deixa de ser abstrata quando se transforma em um grande gelato italiano de fior di latte ou de pistacchio, num beijo de bom dia ou numa bela xicara de chocolate quente do Baretto. Felicidade é ver, todos os dias, com olhos de criança, o Mont Blanc la no fim da estrada, coberto de neve, quando a gente vai para as montanhas comer queijos e tomar vinhos; é ter vontade de chorar ao ver o por do sol nas colinas da estrada de Monferrato, fazendo sobra e mudando as cores dos castelos e vinhedos; é tropeçar todas as vezes que se caminha no Lourdes porque nao consegue entender onde foi parar aquela casa linda que estava ali na esquina desde a construçao da cidade e de ontem para hoje se tranformou num domino de tapume; é rir sozinha quando se tem vontade; é cumprimentar as pessoas na rua, mesmo aquelas que nao cumprimentam de volta, e se deliciar com os olhares que parecem perguntar: "mas quem era mesmo aquela menina"; é cortar um vestido, fazer uma saia e encher de fuxicos, botoes e joaninhas coloridas; é tomar café da manha com mascarpone, burrata, torrada e cha; é fazer o pao que se come; é pensar que um dia voce pode ser tudo aquilo que quiser mesmo que este dia nunca chegue; é fazer planos impossiveis pelo simples prazer de faze-los; é pagar o supermercado com moedinhas de um centavo; é andar de bicicleta em uma tarde de sol meio fria; é usar aquecedor de orelhas e meias listradas coloridas; é colocar os pés no mar com as calças dobradas até no joelho; é escrever bobagens na areia; é beber Barbera, Barollo e San Giovese todos os dias no almoço e na janta, se tiver vontade; é usar um cachecol cheinho de pompons feito por voce; é fazer feijoada no meio da semana; é ter amigos de infancia, de colégio, de faculdade, de obra e da vida espalhados pelo mundo; é se encanatar com a vista do Topo do Mundo e se sentir protegida pela Serra do Curral; é dormir com a consciencia tranquila; é acreditar e esperar das pessoas; é ajudar alguém, com palavras, atos, pensamentos ou sentimentos; é ganhar presente de aniversario ou sem data marcada; é tirar retrato e ver que ficou bonita na foto; é receber mensagem de quem nao se espera; é ouvir pedido de desculpas e pedir desculpas também, é chorar de emoçao quando os olhos se enchem d'agua; é ter uma planta que sobrevive apesar do seu dedo-cinza; é pregar gravuras na parede; é sentir saudades; é perdoar sem esquecer; é aprender uma coisa nova a cada dia e querer aprender sempre mais; é saber que o maior conhecimento nao vem dos livros; é assumir a propria ignorancia e entender as proprias limitaçoes; é reconhecer e aceitar as diferenças. Facil para uns e tao complicado para todo o resto. Felicidade, pra mim, é viver todo e cada momento nao como se fosse o ultimo, mas como se fosse a primeira vez!

Lição do dia

As coisas que são importantes para você nem sempre são importantes para o resto do mundo.

13.9.10

Elementar

Quando tudo está diferente, significa que você não é mais o mesmo.

Cretina

E quem nunca mentiu para uma amiga que atire a primeira pedra. Existem mentiras saudáveis dependendo do momento e da amiga. Mais do que saudáveis, existem aquelas necessárias. Nossa, seu cabelo ficou lindo! Muito melhor. Nem parece que você engordou. Gente, essa roupa esta otima! Achei ele uma graça... Enfim, foi assim. Ela estava em casa hospedando uma amiga queridissima, daquelas que te faz mil mimos e cozinha coisas maravilhosas. Um dia é uma delicia, uma semana é divertido, um mês pode ser um pandemonio se a mesma amiga está no meio de seu inferno astral e crise de carência afetiva-emocional-profissional concomitante. A amiga não era nem alta, nem baixa. Um pouco acima do peso, com longos cabelos negros encaracolados, sorriso doce, olhos azul-turquesa inimagináveis e seios tamanho e modelo Pamela Anderson GG. Um tipo verdadeiramente particular, neta de um irlandês com uma egipicia, criada meio cigana. Falava inglês, espanhol, francês, italiano, árabe e tupi (Ahn?). Fazia o tipo mulher fatal inocente, daquelas que se insinuam para todos mas quer fazer parecer que na verdade é o alvo e não a caçadora. Todos os homens, por ela e segundo ela, demonstravam algum interesse. O velhinho de mais de oitenta anos da esquina lhe pediu a mão em casamento, o homem maravilhoso em frente a imobiliária lhe estava comendo com os olhos enquanto falava ao celular, o notáio a convidou para sair no meio de uma entrevista de trabalho, o funcionário do supermercado se ofereceu para carregar suas compras até em casa, enfim, so mesmo o homem por quem era apaixonada não lhe respondia sequer uma mensagem de celular. Cozinhava todo o tempo, com ou sem fome, mas não sabia o que era lavar a louça, arrumar a cama ou limpar o banheiro. Ela pouco a pouco se cansava da situação e havia momentos de pensamentos clandestinos desejando que amiga fosse embora ou pelo menos ficasse muda e imovel pelos proximos dias. Nenhum dos dois aconteceu. Foram então convidadas para um jantar na casa de uma outra amiga. Ou melhor, ela foi convidada para o jantar mas era impossivel não estender o convite e colocar a tiracolo e mais novo acessorio: a amiga que usava sempre roupas ou curtissimas, ou justissimas ou decotadissimas. A outra amiga? Puritanissima. Mulheres, quando começam a se preparar para sair, são todas iguais: banho de meia hora, lingerie, secador para cabelo, maquiagem, perfume e... a roupa. A amiga pega então três modelitos nada básicos e pergunta: qual? Ela, como unica saida, escolhe o mais discreto: um vestido curto, mas não tanto decotado, preto com flores vermelhas, que com uma meia calça preta e uma echarpe vermelha resolveria qualquer problema de qualquer um. O de franjas, pelamordedeus, nem pensar. Mas a amiga insistia em um micro-tubinho preto tomara-que-caia. MICRO! TOMARAQUECAIA! PUTAQUEPARIU! E o fato é que nem Gesù Bambino, nem Maomé nem Nossa Senhora de Todas as Coisas removia de sua cabeça a idéia de colocar aquele vestidinho ou de que poderia conhecer o homem da sua vida neste jantar maravilhoso feito para cinco amigas casadas no apartamento de uma delas. Ela, definitivamente sem saber o que fazer, coloca também um vestido preto curtissimo, com uma meia calça preta rendada e um casaco, na esperança de se fazer entender. Sente frio? Frio? Ela riu, jogou o casaco sobre a poltrona, passou um batom bem vermelho, trocou a bota preta por um salto agulha tigrado, mentalizou um inferninho qualquer dos seus vinte, trinta anos e respondeu: Não! Vamos? Dentro dela uma espécie de euforia intima começava a tomar espaço, massacrando contra paredes recalcadas toda espécie de pudor, timidez, vergonha ou comiseração. Naquela noite, as outras amigas acharam melhor não comentar, mas tinha alguma coisa muito estranha no ar.

12.9.10

Autopsia

Se você perdeu a capacidade de se admirar diante da injustiça e criou a habitude de aceitar o próprio sofrimento: Parabéns! Você já está pronto para morrer sem fazer a menor diferença para o resto do mundo.

A boa filha à casa torna

Suspiro. Guardo de soslaio no canto do espelho e ela ainda está lá, onde sempre esteve. Inspiro.

11.9.10

Amar, malamar e desamar

O único dever do homem é amar (Camus) e sua única obrigação é ser feliz... Isso explica muita coisa "gauche" nesta vida.

Coragem, o Cão Covarde


A covardia é muito maior naquele que manda do que naquele que faz, porque para fazer, afinal, é sempre preciso (pelo menos) um pouco de coragem.