Desde

Desde

29.5.12

Arco-iris

Quando a gente esta acostumado com o escuro, é muito dificil abrir os olhos para a luz do sol. Chega a doer até a gente se acostumar. Mesmo que a gente comece devagarinho, abrindo preguiçosamente uma palpebra para so depois arriscar a outra, é ruim. Aquilo que deveria ser um sonho, se transforma em pesadelo e a dor entra pelas pupilas da gente circulando e transformando o sonho colorido em um pesadelo desfocado. Tem gente que prefere estar sempre de oculos escuros, assim nao sofre incomodos, nao sai da zona de conforto e ve tudo sempre em sephia. Tem gente que prefere simplesmente continuar ali, no quarto escuro, vendo as mesmas coisas do mesmo jeito, em preto e branco. A maioria de nos arrisca e, no fim, ve o mundo como ele é, conferindo a cada novo desejo uma nova tonalidade e criando outras de acordo com a intensidade, a finalidade e a necessidade da situaçao. Porque a vida, é uma caixa de lapis de cores aquarelaveis e infinitas, suas possibilidades e nuances so dependem da mao de cada artista.



24.5.12

Macabéia

A cigada olhou nos olhos da menina e viu seu desespero. Depois, olhou para as maos e traçou as linhas do seu destido. "Eu vejo uma desilusao amorosa muito grande". E os olhos da menina se encheram de lagrimas e tristeza. Sentindo a força daquela mola propulsora, a cigana continuou: "Mas fique tranquila, tudo acabara bem". A menina segurou o choro, engoliu a angustia e esperou apreensiva pelas proximas palavras, daquilo dependia o seu futuro. A velha, com voz rouca e tom ameaçador, lançou a ultima pedra: "vejo uma morena...", e o mundo da menina caiu. Todas as suas suspeitas andavam ao encontro da nova estagiaria loira, ainda mais nova do que ela, belos olhos, boca grande e inteligencia inversamente proporcional aos longos cabelos dourados. "Morena"... e fungou. Nao conseguia pensar em mais ninguém além de si mesma. E se a duvida existia, era obvio que a certeza nao se fazia presente e naqueles casos era melhor nao vacilar. De repente, sentiu-se liberada. Estava ali, escrito na palma das suas maos, o mapa para a sua felicidade. A cigana havia decidido o seu destino, e ela se lembrou disso, anos e anos depois, tentando explicar para sua unica filha, quem era o seu verdadeiro pai.


Spleen

Havia um tempo em que as pessoas morriam de amor, hoje o amor mata as pessoas.


23.5.12

Com creme

Ela queria encontrar um modo de nao mais pensar nele. Ele queria encontrar um modo de encontra-la. E assim eles seguiam vivendo vidas paralelas que se entrelaçavam, um dentro do outro, os dois fora do alcance dos olhos e das maos. Até que um dia eles nao se pensaram mais: ela nao se lembrou dele ao acordar, ele nao imaginou seu perfume antes de sair de casa. Os dois se encontraram naquela antiga cafeteria do centro, com a roupa de todo dia; ele com os cabelos molhados, ela com a alma lavada. Sorriram, se cumprimentaram com os olhos e beberam juntos um café; ele sentado na mesinha do canto, ela em pé ao balcao. Ela pagou a conta dos dois e saiu. Ele continuou bebendo devagarinho o seu café frio, soprando continuamente uma fumaça que nao existia. E o desejo permaneceu quente, doce e suspenso como uma spruzzata de chantilly.


21.5.12

A vida é um susto

Ja que morrer todo mundo morre, o que pode ser melhor: saber o que te mata ou morrer sem saber?


17.5.12

Press release

Ela subiu as escadas com pressa, tropeçando nos proprios passos, respiraçao ofegante, coraçao disparado. Trazia, agarrado ao peito, um maço de papel: um livro roubado. Ela nunca havia roubado nada na vida, mas aquelas palavras lhe pertenciam (ou seria ela quem pertencia àquelas paginas?), muito antes de serem escritas. Correu para o quarto, trancou a porta, conferiu girando a maçaneta e, uma vez segura de estar sozinha consigo mesma, coisa que nunca acontecera antes, começou a ler o livro da sua historia. Pagina por pagina, dando tempo ao tempo, inspirando e expirando no ritmo dos acontecimentos... Os olhos arregalados teimavam em nao fechar, nunca mais. O livro era grande, imenso, mas nao era pesado, escorria pelos seus dedos, molhados de saliva, e ela podia jurar que era possivel voar, mesmo sem vento. Terminada a leitura diaria, ela arrancava a pagina, embolava o papel, e com mordidas cheias de fome devorava, uma a uma daquelas letras, que incorporava a medida que engolia e começavam a fazer parte concreta do seu ser. Podia ve-las no espelho, no seu rosto ainda tanto jovem, nas primeiras rugas que insistiam em aparecer no seu pescoço, nos poucos fios de cabelo brancos que atestavam seu passado, nas maos de unhas curtas, no sangue que circulava em suas veias. Enquanto (e de tanto) se olhava no espelho, de repente, ela deixou de ser gente e virou livro, um emaranhado de palavras, um conjunto de cronicas e de passagens que ela nunca viveu, porque nao teve tempo. A vida era curta, o volume era grande e ela se perdeu no meio das notas de rodapé.


13.5.12

Mais vale um passaro na mao

Se voce faz as coisas como quer e nao como esperam que voce faça, ao menos uma pessoa sera contentissima!!! No minimo, realizada.


6.5.12

Ditado popular

O que os olhos nao veem a cabeça imagina mil vezes pior.


Figura de linguagem

Existem metaforas tao perfeitas que quando interpretadas perdem todo o sentido.


3.5.12

Tempos nem tao modernos assim

Cada situaçao mal resolvida da nossa vida vira uma cicatriz interna, que é uma espécie de tatuagem na alma da gente.