Desde

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16.3.11

Celebremos o Hoje

Até cinco anos atras quase ninguém sabia bem o que era um tsunami. Até que uma grande onda atingiu a Tailandia e, ao vivo, aos olhos de todos, foram mortos nativos, turistas, crianças e animais. Nao existe ainda (e talvez nao existira nunca) algo que o homem possa fazer contra a furia da natureza. Agora, colpido o Japao. Um povo guerreiro, de sabedoria milenar, acostumado ao sofrimento, as quedas e a reconstruçao, das guerras e dos desastres naturais. Rigorosos, discipliandos e reservados, de repente se encontram expostos, escancarados aos olhos do mundo, dos curiosos. Olhando pelo buraco da fechadura, muito atentamente, conseguimos vislumbrar uma ou outra lagrima, fechando os olhos é possivel ouvir um grito de horror, um choro contido... mas a reaçao geral é de simples dignidade expressa no respeito pela dor, pelos mortos e pelo espirito de coletividade, dos minimos detalhes às grandes açoes, sem exagero, sem desespero, sem sensacionalismo. Todos nos sabemos que o Japao esta em uma area cismica e ha sempre aplicado todas as regras de segurança em suas construçoes. Ninguém gosta de prever o pior, nem mesmo o inevitavel. Agora, existe a ameaça nuclear, que além das dezenas de milhares de mortos abre feridas que se inflamam através de geraçoes atingindo todas as esferas de vida na Terra. 

Como se nao bastasse toda essa tristeza, existem os pequenos tsunamis de todos os dias, de pessoas que tem tudo para serem felizes, mas adoram inventar problemas e se vangloriar de suas tragédias pessoais. Como se fizessem uma competiçao diaria e cotidiana, uma especie de concurso universal de tristeza para saber quem sofre mais e com sua onda gigante de pessimismo conseguem destruir toda a felicidade que existe em volta, ou mesmo toda possibilidade de se plantar um jardim, que dira de colher uma flor. Como se nao bastasse a tragédia de ontem, essas pessoas estao sempre prontas a encontrar uma nova para agora e guardar na manga aquela de amanha. A essas pessoas eu gostaria de fazer um convite: em vez de se lamentar pelo que nao foi, celebremos o que é; em vez de chorar pelo que passou, celebremos as novas possibilidades; em vez de se culpar pelos erros passados, celebremos as proximas escolhas; em vez de tentar entender o que nao tem explicaçao, celebremos nossa criatividade; em vez de insistir em sofrer um pouco todos os dias, celebremos o hoje. Hoje! Porque o passado ja nao existe mais e o amanha começa daqui a pouco. Hoje é a unica coisa realmente nossa e que realmente existe, é o unico tempo no qual podemos viver e mudar alguma coisa. E se o presente é nosso, cabe a nos decidir o que fazer com ele: aproveitar ou repassar? Quer uma dica: sempre que sentir aquela vontade doida de reclamar, de chorar as pitangas, de remoer magoas passadas... ligue a televisao em um noticiario qualquer e va ver como esta a situaçao no norte da Africa; abre a janela e da uma olhadinha na esquina; liga para uma associaçao comunitaria, escolhida assim ao acaso, e ofereça ajuda. E, se posso me permitir mais um conselho, um ultimo: mire-se no exemplo daquelas mulheres japonesas.


15.3.11

Vergonha Alheia

Vergonha deveria ser uma coisa que se aplica na cara de algumas pessoas que nem botox. Altamente recomendavel para a sindrome de cara-de-pau, pandemia mundial.

14.3.11

Toda meia é um par

Eu tenho uma amiga que ficou tanto tempo com o armario de portas fechadas que agora nao tem nem gaveta para revirar.

10.3.11

Talvez

Talvez eles fossem mesmo muito diferentes. Talvez tudo passasse com o tempo. Talvez ela estivesse, mesmo, exagerando. Talvez ele estivesse, mesmo, dando pouca importancia. Talvez ela fosse muito exigente. Talvez ele fosse muito acomodado. Talvez estivessem apenas reproduzindo comportamentos. Talvez estivessem apenas descontando magoas. Talvez ele fosse traumatizado. Talvez ela fosse muito ousada. Talvez um amasse mais do que o outro. Talvez um dos dois nao soubesse o que era amor. Talvez nenhum dos dois. Talvez nao era aquele o momento. Talvez o momento nao chegasse nunca. Talvez faltasse paixao. Talvez faltasse decisao. Talvez ele era muito ocupado. Talvez ela era muito livre. Talvez ele estivesse decidido a nao querer. Talvez ela estivesse decidida e se jogar. Talvez fosse so uma questao de sinceridade. Talvez eles ainda nao soubessem, mas talvez este fosse, realmente, o grande problema entre eles... o talvez.

8.3.11

Saber é Poder

Este texto é para lembrar que a gente nao deve se acostumar. O segredo da felicidade na vida esta na capacidade de se admirar...

Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica insatisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.