Desde

Desde

11.10.10

Outdoor

Ela trabalhava em um Projeto Social que recebia doaçoes de roupas usadas. Selecionava as doaçoes e preparava para a venda aquilo que era possivel. Costurava pedaços, limpava, lavava, passava. Todos os dias a mesma coisa, no mesmo ritmo. Era "bolsista" do governo. Nao era velha, mas também nao era mais uma garotinha. Exilada politica, cinco filhos, pele muito escura, estatura baixa, robusta. O véu cobria os cabelos. Vestida sempre de modo simples, batas longas, saias compridas ou calças coloridas. Sem ostentaçao, sem vaidade, traida pelo desejo. Um dia recebe uma senhora com uma bolsa grande, como tantas outras, milhares, dezenas todos os dias, cheia de roupas. Esta senhora era magra, magra, magra... Tinha na pele muito clara, nos cabelos brilhantes e nas orelhas ornadas de joias um carimbo: dinheiro. Entrega a sacola e diz: "Pecado, mas nao uso mais. Sao todas roupas de marca". Vira-se e deixa ali, sobre a mesa, um pote de ouro. Ela, sem que ninguém veja, prende para si o pequeno tesouro. Em casa, enche o armario de Dolce Gabbana, Versace, Max Mara, Prada, Givenchy, Cavalli. Os sapatos nao lhe servem. Os casacos nao entram. As calças nao fecham. Os cintos nao abotoam. O chapéu tem uma pluma, a jaqueta é de pelliccia e as luvas sao de renda. Ela agora tem um armario cheio de roupas de marca que nao usara jamais e se sente rica pela primeira vez em toda a vida. Primeira e unica.

Nenhum comentário: