Desde

Desde

17.5.12

Press release

Ela subiu as escadas com pressa, tropeçando nos proprios passos, respiraçao ofegante, coraçao disparado. Trazia, agarrado ao peito, um maço de papel: um livro roubado. Ela nunca havia roubado nada na vida, mas aquelas palavras lhe pertenciam (ou seria ela quem pertencia àquelas paginas?), muito antes de serem escritas. Correu para o quarto, trancou a porta, conferiu girando a maçaneta e, uma vez segura de estar sozinha consigo mesma, coisa que nunca acontecera antes, começou a ler o livro da sua historia. Pagina por pagina, dando tempo ao tempo, inspirando e expirando no ritmo dos acontecimentos... Os olhos arregalados teimavam em nao fechar, nunca mais. O livro era grande, imenso, mas nao era pesado, escorria pelos seus dedos, molhados de saliva, e ela podia jurar que era possivel voar, mesmo sem vento. Terminada a leitura diaria, ela arrancava a pagina, embolava o papel, e com mordidas cheias de fome devorava, uma a uma daquelas letras, que incorporava a medida que engolia e começavam a fazer parte concreta do seu ser. Podia ve-las no espelho, no seu rosto ainda tanto jovem, nas primeiras rugas que insistiam em aparecer no seu pescoço, nos poucos fios de cabelo brancos que atestavam seu passado, nas maos de unhas curtas, no sangue que circulava em suas veias. Enquanto (e de tanto) se olhava no espelho, de repente, ela deixou de ser gente e virou livro, um emaranhado de palavras, um conjunto de cronicas e de passagens que ela nunca viveu, porque nao teve tempo. A vida era curta, o volume era grande e ela se perdeu no meio das notas de rodapé.


2 comentários:

Eliane disse...

Ai, juliana, vc me mata com tanta gostosura (respeitosamente falando).

Juliana Ferreira disse...

Que bom que voce gostou, Eliane...