Desde

Desde

22.2.12

Lambe-lambe

Olhava aquelas fotos velhas no antigo album de retratos mas nao reconhecia os rostos nelas estampados. Tinha a impressao de que aquelas nao eram as pessoas justas. Alguma coisa estava fora do lugar. Perdia longos minutos analisando cuidadosamente cada fotografia, estudava as expressoes, contava as rugas, coloria cabelos brancos, dava luz a bebes e relacionamentos, criava teorias proprias e bem particulares sobre situaçoes e possibilidades. Virava sa paginas e via, de repente, seculos de historia desfilando em uma procissao comprida e lenta bem diante de seus olhos com uma familiaridade perdida, talvez jamais existida. O preto e o branco que um dia tinham sido sephia subito se amarelavam para depois reencontrar em cores vivas, ali retratadas mortas, no auge dos seus anos 80. Quando cansava a vista de fazer suposiçoes, fechava os olhos e o album com cuidado para nao amassar as memorias e nem o papel de seda que intercalava cada uma das paginas. Olhava entao no grande espelho do quarto e era surpreendida cara-a-cara com a sua idéia fixa: nao reconhecia aquela face no espelho. Nao reconhecia a si mesma, perdida no mosaico de historia, fechada em um antigo album de retratos trancado a chave dentro de uma gaveta escondida.

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