Desde

Desde

2.4.10

Um passo de cada vez

Voltar a escrever é doloroso. Não sei se é possível me entender, como não sei se um dia alguém que nunca teve problemas para caminhar pode entender o sofrimento de alguém que de repente não pode mais andar. A nossa dor é sempre maior. Podemos ser ainda menos trágicos, mas que coisa você faria se de repente lhe paralizasse uma mão? Só uma, uminha, a esquerda, digamos. A gente faz quase tudo com a mão direita... mas quase ainda não é tudo. E tudo é tanta coisa. Tudo é aquilo que é e aquilo que poria ser, pode imaginar? Quando deixamos de fazer alguma coisa por falta de vontade é bem diferente de não ter feito simplesmente porque fazer era, literalmente, impossível. Mas vem, depois do desastre, a fisioterapia. A gente sabe que é capaz, que já fez aquilo milhares de centenas de vezes antes, por toda a vida talvez, mas agora é diferente, o caminho mais curto é longo e, por mais que todos queiram lhe ajudar, o processo é solitário. Tudo aquilo que antes, naturalmente, fazia parte do cotidiano, agora é um evento. O mínimo movimento precisa ser estudado, trabalhado para depois ser processado, assimilado e, quem sabe, excecutado. Sabe aquela história de que ninguém se esquece de como se anda de bicicleta? Mentira. Experimente entrar na ginástica agora, depois de longos dez anos de férias. Ou, que tal, beber cinco garrafas de cerveja quando termina a quaresma abstêmica. Verdade seja dita, o hábito faz a vida mais fácil. Muitas vezes também menos interessante, por isso eu tenho o hábito mudar sempre o caminho. Enfim, estou em reabilitação e tenho fé porque sei que o milagre, mais do que do santo, depende de quem acredita.

Nenhum comentário: